O ato de escrever é prazer, diversão. É a sensação de poder,
de domínio. Criar gente, fabricar fantasias, inventar cidades, dar vida e dar
morte, criar um terremoto ou furacão, fazer o que eu quiser. Escrever é um
jogo, brincadeira. Conseguir segurar, prender uma pessoa, mantê-la atrelada a
si (é o leitor diante do livro: sua sensação divina).
(Ignácio de Loyola Brandão)
Dominando a palavra o homem tentou perpetuar seus mitos, sua
visão mágica do mundo, suas conquistas, sua história. Nas narrativas, nas
lendas, nas epopéias e canções, alegorizou seus ritos, temores e feitos. Os
registros venceram o tempo nos traçados de múltiplos códigos, como a escrita
cuneiforme, os hieróglifos e a arte primitiva.
Assim, as pinturas rupestres da caverna de Altamira, as
escrituras sagradas dos Vedas, as epopéias gregas, as cantigas provençais, os
contos de fadas contam cada qual com a fantasia, a mitologia, a história de seu
povo. No texto oral ou escrito, ouvir e ler histórias é uma atividade
antropológico-social que distingue culturalmente o homem.
Desde que descobriu o poder encantatório da palavra, o ser
humano deu curso ao pensamento mítico, deu permanência às crenças, às
divindades, à criação do mundo, ao cosmos, envolvendo-os em alegorias. Nos
séculos XVI e XVII, na literatura oral de raízes populares, predominam os
contos folclóricos, os ditos e provérbios.
Na segunda metade do século XVII, propaga-se a ação
sistemática da Igreja para cristianizar a cultura popular, mas o patrimônio
imaginário dos contos, sobretudo os de fadas, resiste à luta de forças da
Contra Reforma que domina o cenário religioso e escolar daquele século.
Com a evolução da História, a interpretação dos
acontecimentos foi-se distanciando das alegorias, da imaginação; entre o mito e
as formas derivadas da narrativa (o romance, a novela, o conto, a crônica), os
heróis divinos torna-se personagens humanas.
Os fator históricos de épocas primordiais cedem lugar aos
episódios cotidianos contemporâneo. Hoje, afirma Nelly Novaes Coellho (O conto
de fadas), “uma das características mais significativas do nosso século é a
coexistência, pacífica ou não, entre inteligência racional/cientificista,
altamente desenvolvida, e o pensamento mágico que dinamiza o imaginário”.
Nas narrativas orais, nas fábulas, nos contos de fadas ou
nos romances contemporâneos, é a imaginação que faz com que apreciemos os
encantamentos de Branca de Neve como apreciamos o fascínio de Cem anos de
solidão.
Histórias que, sem deixar à
margem o padrão culto da língua, encantam pela simplicidade, pelo humor, pela
sátira, pela inovação, pela singularidade, enfim pelo aproveitamento exemplar
das virtualidades da língua.
0 comentários:
Postar um comentário